Ricardo Sá Pinto relembra passagem pelo Vasco: 'Cheguei a parar treinos por causa de rajadas de metralhadora'
Ricardo Sá Pinto é um daqueles jogadores que deixa marca nos adeptos do Sporting. Uma ligação emocional que resiste ao tempo. Contratado ao Salgueiros na época 1994/95, criou desde logo um vínculo especial com as bancadas de Alvalade. Um laço tão forte que ainda hoje lhe vale a alcunha de "Coração de Leão". Saiba mais sobre a sua história com o podcast ‘Ontem Já Era Tarde' de Luís Aguilar
Portugal, Sérvia, Grécia, Arábia Saudita, Bélgica, Polónia, Brasil, Turquia, Irão, Chipre ou Marrocos. Estes são alguns dos países onde Sá Pinto já treinou. Um técnico com ADN multicultural, disposto a cruzar fronteiras para estar no banco. Meio a brincar, diz que a próxima paragem "será na Patagónia".
Mas foi no Brasil, ao serviço do Vasco da Gama, que viveu uma das experiências mais marcantes: "Adorei o Rio de Janeiro. Está entre os sítios onde mais gostei de viver. Costumo dizer, no melhor sentido, que o Rio é uma selva que adotou uma cidade.
Vivia perto de um pântano onde cheguei a ver cobras enormes e jacarés. Adoro aquela harmonia entre a natureza, a cidade e as pessoas."
No entanto, a ligação do futebol com a realidade social revelou-se intensa. "O nosso centro de estágio era ao lado da Cidade de Deus. Cheguei a parar treinos por causa de rajadas de metralhadora. Havia rusgas e os traficantes disparavam para avisar que a polícia estava a entrar na favela."
A primeira vez apanhou Sá Pinto desprevenido. "Foram os jogadores que me alertaram: ‘Mister, dá para parar o treino e regressar aos balneários? Pode haver uma bala perdida.'"
Os perigos não se limitavam ao ambiente externo. Durante um treino, elementos de uma claque do Vasco, com ligações a fações violentas da favela, invadiram o campo para confrontar a equipa. O momento foi gravado e tornou-se viral. Com o grupo receoso, Sá Pinto não hesitou em intervir. "Se tive medo? Estava a ferver por dentro. Mas tinha de ser. Tinha de defender os jogadores. Felizmente, os adeptos acalmaram e não aconteceu nada. Acho que houve ali uma mão divina que me protegeu… e talvez os tenha iluminado também. Mas podia ter acabado muito mal."
Fonte: SIC Notícias