Executivo Alexandre Pássaro e preparador Antonio Mello falam sobre maratona de jogos em 2021
Domingo, 17/01/2021 - 13:13
Os clubes se veem diante de um mergulho no desconhecido. Pela primeira vez, jogadores terão que atuar por 17 meses ininterruptos, quase sempre com dois a três jogos por semana. Reuniões entre dirigentes e profissionais das áreas médicas vêm tentando dimensionar os riscos. Mas as incertezas em torno do calendário da temporada 2021, prevista para começar três dias após o fim do Brasileiro de 2020, ainda travam os planejamentos e até a previsão de dar algum descanso aos atletas.

Por enquanto, a única certeza é que o Brasil terá realidades heterogêneas. Quem ficar no G4 do Brasileiro pode ter maior margem para descansar jogadores. Afinal, só terá jogos pela fase de grupos da Libertadores em 21 de abril e não participará das etapas iniciais da Copa do Brasil.

A partir daí, dúvidas. Tudo depende da final da Libertadores, entre Palmeiras e Santos. Um dos dois irá ao Qatar para o Mundial de Clubes, algo que mexerá na tabela do Brasileirão 2020. Se for o Santos, inclusive, a última rodada da Série A sairá de 24 para 25 de fevereiro.

A incerteza paira também sobre as finais da Copa do Brasil de 2020, que pode terminar no dia 7 de março, se o Palmeiras for ao Qatar, já com Estaduais de 2021 em andamento. Adversário dos palmeirenses no torneio nacional, o Grêmio não sabe como será seu futuro, até por não estar garantido no G4 do Brasileirão.

— As férias já foram cumpridas, mas pode ter um descanso consentido. Depende dos resultados. Podemos usar jogadores que não atuaram de maneira efetiva, jogadores que fazem parte do grupo de transição — disse o presidente gremista, Romildo Bolzan.

Hoje, o calendário da Conmebol prevê jogos da segunda fase da Libertadores (mata-mata que antecipa a fase de grupos) de 2021 em 3 de março, uma semana após o fim do Brasileiro de 2020. Na mesma data, começaria a Copa do Brasil 2021.

E os Estaduais?

Se a decisão da edição 2020 for para março, os representantes brasileiros na segunda fase da Libertadores não estariam definidos a tempo. Há um desenho da CBF junto à Conmebol no qual os brasileiros estreariam na segunda fase (caso o Palmeiras vença a Libertadores) em 10 de março, gerando um efeito cascata até a fase de grupos, em 21 de abril.

Soa tentadora a ideia de descansar jogadores nas rodadas iniciais dos Estaduais. Mas há regulamentos com algumas amarras. No Carioca, há uma brecha para não usar o time principal nas três primeiras rodadas da Taça Guanabara.

A partir da quarta, em 20 de março, o clube que, "sem justo motivo, deixar de utilizar sua equipe considerada principal", perderá a cota de TV do jogo em questão. O Fluminense até sugeriu que a linha de corte fosse a quinta rodada, mas foi voto vencido. No momento, o Carioca não tem contrato de transmissão para 2021.

No Paulista, há uma relação principal com 26 jogadores inscritos. Os clubes podem enviar uma lista B, com número ilimitado, mas composta por atletas que estejam há pelo menos um ano na base. Em cada partida, pode-se usar até sete jogadores da lista B ao mesmo tempo. Em 2020, o teto era cinco.

O Vasco, ao mesmo tempo em que luta para escapar definitivamente da "confusão", como diz o técnico Vanderlei Luxemburgo, já discute a próxima temporada. O time jogará a Copa do Brasil desde o início.

— Vamos precisar de habilidade diante de dois campeonatos com importâncias distintas, sabendo que não é possível abrir mão do Estadual. Há clássicos, o Vasco não vence desde 2016 — diz o executivo de futebol, Alexandre Pássaro. — A Copa do Brasil tem caráter decisivo e precisamos pensar na base. Pela primeira vez, não há Copa São Paulo, o que pode matar uma geração. Os jovens podem ser usados no início do Estadual.

No Fluminense, a costura do acordo para redução salarial no meio de 2020 trouxe como uma das cláusulas a concessão de 10 dias de folga ao término do Brasileirão. Talvez o clube precise renegociar se tiver que jogar a segunda fase da Libertadores, seja em 3 ou 10 de março. Se ficar fora da competição continental, mas uma posição abaixo da zona de classificação, o Flu só entra na terceira fase da Copa do Brasil, já que o Brasil terá oito times na Libertadores. Essa é uma nuance do novo regulamento da competição. Em qualquer hipótese, o elenco será poupado no começo do Carioca.

— Nas três primeiras rodadas, ao menos, não vejo alternativa a não ser descansar jogadores — disse o executivo de futebol do Fluminense, Paulo Angioni.

Com aspirações maiores no Brasileiro, o Flamengo ainda não definiu seu futuro. Hoje, diante do equilíbrio do campeonato, o time pode tanto ser campeão quanto ficar fora da fase de grupos da Libertadores.

— Teremos uma semana juntos em Brasília, agora. E vamos discutir isso. Não quisemos tirar o foco dos próximos jogos. Mas a decisão terá que ser tão bem planejada quanto a comunicação dela — diz o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz.

Comunicação, no caso dos clubes, significa fazer o torcedor saber quais são as possibilidades de um elenco desgastado e, se for o caso, informar da necessidade de abrir mão de um torneio.

Entre os cariocas, o Botafogo é quem mais corre o risco de entrar na temporada 2021 rebaixado para a Série B. A diretoria se prepara para uma reformulação do elenco, o que gera incerteza maior sobre o material humano à disposição.

— A folga que dá para ter é de dois, três dias. As férias já foram tiradas. Vai ter uma recuperação para desacelerar, mas nada longa. A gente sabe que vai emendar, que vai perder muito jogador, tudo isso está sendo levado em conta — disse o gerente de futebol, Túlio Lustosa.

Preparador físico do Vasco, Antonio Mello indica qual a receita para tentar fazer com que os jogadores aguentem a maratona:

— Controle da carga de trabalho, muito controle da alimentação e do repouso para darmos conta. Lesão é inerente. Vamos ter mais prevenção do que treino.

Fonte: O Globo Online