Adilson Batista relembra perda do Estadual de 2014: 'Perdemos roubado, roubado, roubado'
Quarta-feira, 15/08/2018 - 13:54
"Vamos aguardar". O bordão não parece ser mais tão frequente no vocabulário do técnico Adilson Batista. A frase que marcou a carreira do comandante no passado deu lugar a algo menos enigmático. Aos 50 anos, o treinador que tem a missão de manter o América-MG na Série A do Brasileiro trabalha de forma mais direta. De 2015 a 2018, teve um hiato na carreira. Antes do Coelho, o último trabalho havia sido no Joinville, de onde saiu após 10 jogos. Durante a pausa, fez cursos, observou treinadores mais de perto e clubes mundo afora, principalmente os alemães. O que ele busca colocar em prática neste retorno ao futebol mineiro.

Adilson Batista recebeu o GloboEsporte.com para contar sobre a passagem por vários clubes do futebol brasileiro e falou sobre bronca no Rio de Janeiro, arrependimento em Minas Gerais e no Sul, erros e decepções em São Paulo.

A retrospectiva profissional de Adilson tem um tópico importante no Vasco da Gama. O treinador assumiu o clube no fim de 2013. O objetivo era único: livrar a equipe do rebaixamento. Ele não conseguiu fazer com que os cariocas escapassem da degola, mas teve o contrato renovado pela diretoria, que considerou o trabalho promissor.

No Campeonato Carioca de 2014, enfrentou erros de arbitragem em dois jogos contra o Flamengo. No primeiro turno, em duelo no Maracanã, o Rubro-Negro venceu por 2 a 1. No fim do jogo, o meia Douglas, hoje no Grêmio, cobrou falta, a bola bateu no travessão e entrou, mas o juiz e os auxiliares não deram gol. Na final, em outro encontro entre os dois times, o Flamengo levantou o caneco com gol de Márcio Araújo em posição de impedimento. Equívocos da arbitragem ainda incomodam.

- Fiz um ótimo trabalho no Vasco. Perdemos roubado, roubado, roubado (sobre a final do Carioca 2014 contra o Flamengo). Foram três eleições lá. Você sabe como é o clube vivenciando eleições. O aspecto financeiro com dificuldade enorme.

- Mas estava bem controlado com o Caetano (Rodrigo Caetano, então diretor de futebol), Ricardo Gomes (diretor técnico à época), e com a gente gerenciando no campo. Fui prejudicado no turno e fui prejudicado na final.

A saída de Adilson do Vasco se deu no Campeonato Brasileiro. Uma goleada em São Januário resultou no adeus do técnico, que garante ter "pedido o boné" após o resultado.

- Tivemos algumas lesões que fizeram reiniciar o Brasileiro com dificuldade. Concordo que se você tem o título e um suporte, ficaria mais tempo. O trabalho foi bom. Se você perguntar aos profissionais no Rio de Janeiro, vai todo mundo dizer. Contra Botafogo, Fluminense e Flamengo, nós, com poder aquisitivo menor, jogamos melhor.

"Fomos prejudicados lá. Depois de uma derrota por 5 a 0 para o Avaí, eu pedi para sair. Vivenciei algumas situações que não convém comentar, mas disse que não queria mais. Falei que iria embora."

Sem boicote no Corinthians

Adilson treinou estrelas como Ronaldo e Roberto Carlos no Corinthians. A história de que sofreu boicote do elenco é rebatida pelo treinador. Ele admite que pecou pelo excesso de trabalho com o grupo.

- Não fui boicotado no Corinthians. O meu erro foi carga de trabalho. Estava há três anos trabalhando com a linha de quatro, três e mais três ou um meia, um ponta e um centroavante. Eu gosto disso e peço isso com intensidade. O time não respondeu.

"Nisso, eu errei. Eu poderia dar a manutenção de duas linhas de quatro, dar a bola para os outros e jogar no contra-ataque. Mas eu não gosto. Tem que entender isso. Eu erro, e o clube que me contrata erra também."

Nem mesmo os horários dos treinos da manhã, conhecidos no mundo do futebol por incomodar alguns jogadores com vida noturna mais atribulada, são vistos por Adilson como empecilho para a falta de continuidade nos trabalhos anteriores. Aos 50 anos, o treinador garante ter experiência para evitar locais em que prevaleçam a cultura de treinar mais na parte da tarde.

- Eu gosto de trabalhar de manhã, acordo 6h e gosto de dar treino 9h. Tem estado que gosta de trabalhar à tarde, então não vou para lá. Não foi boicote. Foi erro de carga no Corinthians. O Ronaldo me tratou bem, o Roberto Carlos tranquilo.

Outro erro foi admitido por Adilson na gestão do Corinthians: a contratação do zagueiro Thiago Heleno, com quem havia trabalhado no Cruzeiro. O técnico justificou que pretendia uma defesa mais rápida, mas que os desfalques pesaram em momentos decisivos.

- Eu perdi o Ralf em um jogo contra o Grêmio, perdi o Jorge Henrique e o Jucilei. Errei em levar o Thiago Heleno. Eu tinha Chicão, Castán, Paulo André e William (zagueiros do Corinthians à época). Queria um enfrentamento, um time mais rápido. Isso você erra.

"Querem fumar, fumem, querem beber, bebam. Mas têm que correr. É preciso ter responsabilidade com a instituição. É preciso que as pessoas entendam que aqui há um profissional que tem compromisso com a instituição."

Nunca mais ao Santos

Recentemente, o América-MG foi à Vila Belmiro e venceu o Santos por 1 a 0. A satisfação de Adilson, naquele momento, pode ter ido além dos três pontos. O treinador admitiu que sofreu injustiça no Peixe, quando assumiu no fim de 2010 e saiu em fevereiro do ano seguinte. Além de recusar qualquer chance de voltar ao clube paulista, Adilson ainda citou que se arrepende de ter deixado Atlético-PR e Cruzeiro.

- No Santos eu fui mandado embora injustamente. Eu nunca mais volto para o Santos. Eu queria ter feito um ótimo trabalho no Atlético-PR e não deu tempo de montar o time. O Zezé (Perrella, ex-presidente do Cruzeiro) me falou uma vez uma coisa interessante. Às vezes você monta o time e os outros ficam com os "louros" da vitória. Eu não deveria ter saído do Cruzeiro. O time vice-campeão brasileiro (2010) é de quem? O time que fez mais pontos na Libertadores (2011), antes de perder para o Once Caldas, é de quem?

"Tem coisas que você tem que fazer um sacrifício. Você monta, faz 50 e tantos pontos, mas não pode ficar para os outros. Você vai aprendendo isso."

Dois passos atrás

Um jogo contra o Corinthians, em 2011, quando treinava o São Paulo, martela a cabeça de Adilson. Na ocasião, ele enfrentou a equipe de Tite, que, segundo o técnico, se fechou na defesa e conseguiu o empate no Morumbi.

- No São Paulo, empatei demais. Poderia ter chegado à liderança do Brasileiro em um jogo contra o Corinthians no Morumbi. O que o que Tite fez? Colocou a bunda lá atrás, se fechou e empatou no Morumbi. Ali, eu iria para a liderança.

"Na vida, às vezes, é melhor dar um passo para trás e depois dar dois para a frente. Fui mandado embora do São Paulo em um jogo que acertamos quatro bolas na trave e perdemos. É assim o futebol."

Cruzeiro na vida de Adilson

O trabalho mais promissor de Adilson como técnico foi no Cruzeiro. Foram dois anos e meio com dois títulos mineiros conqusitados. Porém, a base sólida formada não resultou em conquistas expressivas. A derrota na final da Libertadores 2009, para o Estudiantes, dentro do Mineirão, se tornou um trauma. As histórias de que houve briga por conta de premiação antes do jogo não foram confirmadas pelo técnico, embora outros jogadores já tenham falado sobre o assunto. O que fica para Adilson é a frustração de não ter sido vencedor na Raposa.

- Faltou um grande título pelo Cruzeiro, até pelos jogadores. Faz parte da nossa vida. Não (teve briga). Teve excesso de confiança. O time vinha jogando bem, mas errou na decisão. A desatenção numa bola parada.

Em compensação, Adilson sorriu na maioria dos clássicos que disputou. Foram 12 clássicos no período em que comandou o clube celeste. Sob o comando de Adilson, o Cruzeiro venceu nove, empatou dois e só perdeu uma partida para o Atlético-MG.

- Nós tínhamos um grande time. Chegamos nas oitavas da Libertadores jogando melhor que o Boca. Eles deram quatro contra-ataques e ganharam o jogo. No outro ano, chegamos na final. No Brasileiro, chegamos no terceiro lugar. No segundo ano, abdicamos e fizemos menos pontos. Eu não queria ficar reconhecido apenas por ganhar clássicos. Olha para trás, olho o que foi feito. Tirar o Paysandu da queda (2004), o Grêmio em 2003, o Figueirense na penúltima rodada em Brasília (contra o Brasiliense, em 2005). Isso é trabalho. Não é só clássico, estou relatando outras coisas.

Trabalharia no Atlético-MG?

O próprio Alexandre Kalil, presidente marcado na história do Galo, já fez elogios ao conhecimento de Adilson Batista sobre futebol. Inclusive, há uma lenda no noticiário esportivo mineiro em que em um jantar com Zezé Perrella, ex-presidente do Cruzeiro, Kalil teria dito que um dia tomaria o treinador para o lado alvinegro.

O GloboEsporte.com perguntou a Adilson Batista como ele encararia a hipótese de trabalhar no Atlético-MG. O técnico não descartou e disse que já foi sondado pelo Galo.

- Acho que até situações, não posso afirmar, mas tenho amigos, sondagem já (do Atlético). Não vou cravar. Um dia...não sei. Sou um profissional e hoje estou contente aqui (América).

- Faltou só jogar aqui. Lá eu joguei, no Cruzeiro também. Aqui eu vim treinar com o Wantuil escondido, mas nos juniores. Dá para dizer que a trinca foi feita.



Fonte: GloboEsporte.com (texto), Reprodução Internet (foto)